A luta contra o racismo tem estado cada vez mais presente no cotidiano de todos nós. Mais recentemente, com movimentos surgindo e outros tomando ainda mais força, após assassinatos brutais dentro e fora do país, como o caso de George Floyd e da família que teve o carro fuzilado em uma operação do Exército. A lamentável morte de Floyd, juntamente com outros casos igualmente revoltantes, incendiou pessoas ao redor do mundo e “trouxe à tona”, para o restante da sociedade, a violência que pessoas pretas vem sofrido ao longo de séculos.
Pudemos ver ao longo de conversas e também nas redes sociais, relatos de pessoas indignadas com as injustiças e inúmeros casos de violência voltados a pessoas não brancas. A procura por informação sobre como aplicar medidas antirracistas cresceu muito, o que fez muitos de nós repensarmos diversas ações e comportamentos do dia a dia. Assim como a fala da escritora, filósofa e ativista estadunidense, Angela Davis “Não basta não ser racista; é necessário ser antirracista.”
Mas como ser antirracista? Como identificar, primeiro em nós mesmos, as práticas racistas que propagamos? Essas são perguntas que esperamos responder aqui para que possamos embarcar nessa jornada de luta diária contra o racismo!
O que é antirracismo?
De acordo com a definição dada pelo dicionário, antirracismo é um “movimento, opinião ou sentimento de oposição ao racismo”. Mas o que isso quer dizer na prática?
A princípio, parece ser apenas um conceito fácil e de pouca complexidade, apenas ser contra o racismo. Mas o que muitos de nós não sabemos é que ser de fato antirracista é primeiramente olhar pra dentro de si, vasculhar e aceitar que há sim momentos e atitudes em que propagamos racismo ou somos coniventes de alguma forma. Antirracismo é prática e teoria, é uma análise de si, do meio e dos outros.
Participar ativamente na promoção de práticas igualitárias é importante e necessário. Usar nossa voz e reconhecer nossos privilégios são coisas que podemos fazer e que contribuem para a redução da desigualdade. Há muitos pontos a serem discutidos sobre essa pauta, como a questão de identidade racial e colorismo no Brasil, mas relembrando que aqui iremos construir a base para que possamos trilhar esse caminho.
Entenda sobre o que é letramento racial
Antes de tudo, precisamos de ferramentas para que possamos identificar, em nós e ao nosso redor, as práticas de racismo que passam despercebidas, principalmente, por quem não tem sua vida afetada direta ou indiretamente. Iniciar nosso caminho no letramento racial nos convida à reflexão e também requer posicionamento tanto na teoria quanto na prática.
Aprender sobre questões raciais vai além de compreender falas e textos, é ter consciência de como o racismo estrutural é presente no nosso país e o quão pouco tem sido feito sobre isso. Ser antirracista envolve muito mais do que se posicionar verbalmente sobre um fato isolado que presenciamos, faz parte da nossa caminhada de aprendizado buscar informações de vozes competentes.
Autores e autoras (inter)nacionais tem discutido sobre as ações que podem e devem ser tomadas para reduzirmos a disparidade social presente na nossa sociedade. Ao longo dos anos muitas pautas tem sido levantadas, como a filósofa e acadêmica brasileira Djamila Ribeiro que, em seu livro Pequeno Manual Antirracista, apresenta o assunto de forma muito didática e acessível para todos que desejam se aprofundar.
Aprenda a identificar o racismo
Quando falamos sobre percepção e constatação do racismo estrutural, por exemplo, exercícios simples podem ser feitos para constatar facilmente contextos e posições onde pessoas não brancas não são bem-vindas ou tem difícil acesso, principalmente quando se trata de mulheres.
Quando adquirirmos conhecimento após consumir conteúdo de pesquisadores no assunto, fica mais fácil notar onde corpos pretos e indígenas (outra população marginalizada no Brasil) não têm espaço. Por isso é tão importante entender o que é o racismo estrutural e tudo o que ele acarreta.
Por exemplo, os frutos da escravidão no Brasil ainda persistem na nossa sociedade. Pessoas foram roubadas de suas vidas, de suas terras há 500 anos e ainda são até hoje. Além de toda a exploração do passado, ainda hoje os filhos e netos de escravos são roubados de oportunidades e relegados à margem da sociedade branca e elitista.
Observe no seu ambiente de trabalho, quantos pretos há nos cargos de liderança? Ou até mesmo em qualquer cargo. Quem são as pessoas que limpam os escritórios, cuidam das crianças e abrem o portão das portarias? Os exemplos são inúmeros, e a partir do momento em que começamos a nos atentar, não deixaremos mais de ver, não poderemos mais não notar.
É indispensável estarmos atentos, para que possamos agir sempre que confrontados com conversas, estruturas e comportamentos inocentes de racismo puro e/ou disfarçado
Antirracismo na prática
Após estudo e entendimento, realmente fica mais fácil vivenciarmos nossas práticas antirracistas. O que temos que ter muito cuidado é para não atravessar uma pessoa preta para dizer-lhe o quanto o racismo é ruim, por exemplo. Além de reconhecermos privilégios, é preciso reconhecer que pessoas brancas não são os protagonistas na luta contra o racismo. Seu papel é fortalecer e prover a base para o levante, e não tomar a frente, precisamos ter cuidado com a “síndrome do branco salvador”.
Quanto às pessoas não brancas, é fundamental recuperar o pertencimento, encontrar e abraçar suas origens e se orgulhar do seu legado. Por esse e outros motivos a busca por conhecimento é necessária.
E como colocar essa postura na prática? Fale com as pessoas do seu círculo, provoque reflexões, e se necessário, tire algumas pessoas do seu lugar de conforto. Apoie os artistas, os prestadores de serviço, ofereça oportunidades de crescimento, caso você possa. Escolha governantes que se preocupam com a causa e a desigualdade racial, eles são a linha de frente na criação das políticas públicas.
Lembre-se de fazer o que estiver dentro do seu alcance. A partir daqui, seu caminho na luta antirracismo está sendo trilhado e trará frutos para a causa.
Acompanhe a seguir, uma lista de leituras e outros materiais contendo obras fictícias e não-fictícias sobre o assunto:
- Mulheres, Raça e Classe – Angela Davis (Boitempo Editorial)
- Americanah – Chimamanda Ngozi Adichie (Companhia das Letras)
- Memórias da Plantação – Grada Kilomba (Cobogó)
- O que é lugar de fala? – Djamila Ribeiro (Editora Letramento)
- Um Defeito de Cor – Ana Maria Gonçalves (Editora Record)
- Quando Me Descobri Negra – Bianca Santana (Sesi)
- Quarto de Despejo – Carolina Maria de Jesus (Editora Francisco Alves)
- Olhos D’água – Conceição Evaristo (Pallas)
Confira algumas séries e filmes que você também pode gostar.
- Uma Noite em Miami (One Night in Miami – 2020). Dirigido por Regina King.
- Olhos que Condenam (When They See Us – 2019). Dirigido por Ava DuVernay.
- Corra (Get Out – 2017). Dirigido por Jordan Peele.
- Infiltrado na Klan ( BlacKkKlansman – 2018). Dirigido por Spike Lee.
- Preto Favelado, Escravo Fujão (2016) – Criado por jovens periféricos de São Gonçalo (RJ), na oficina de Produção Audiovisual do Projeto Olho Vivo.
O caminho para se tornar antirracista não é fácil e precisa ser escolhido com constância para que as mudanças, tanto internas quanto externas, possam ocorrer de fato. Se você se interesse por assuntos que envolvem nossa sociedade, continue acompanhando o blog T_Jama para aprender mais sobre esses temas!
1 comentário em “Luta antirracista: por onde começar?”
Oi pessoal, tudo bem ? Alguns me conhecem sou um cara muito do bem, da paz , alegria total mas ja sofri com o preconceito sim . Hoje em dia as vezes escuto umas coisas, mas não me deixo abater por isso, e acho que precisamos mudar isso no MUNDO ou as pessoas se tocarem. Tenho sim meus momentos de tristeza, nao é todo dia que estou 100% mas dou sempre o melhor de mim. Mudanças ja
Beijos e abraços do Negão mais querido