Não é de hoje que o dia a dia das mulheres de todo mundo se resume à dedicação exclusiva às tarefas do lar. Muitas, inclusive, são condicionadas a viver uma rotina doméstica devido à falta de oportunidades no mercado de trabalho. Mas, dentre as mulheres empregadas, boa parte concilia o trabalho remunerado às atividades não remuneradas.
Diante dessas condições, o termo “economia do cuidado” surge como uma alerta de movimentos feministas e sociais para a invisibilização do esforço feminino referente às atividades do dia a dia.
Quer entender mais sobre o conceito? Então, continue a leitura do post da TJama e descubra como a economia do cuidado impacta a vida de mulheres diariamente!
O que é economia do cuidado?
O termo “economia de cuidado” se refere a invisibilização e ausência de remuneração, diante de tarefas diárias como: cozinhar, limpar, cuidar dos filhos, de pessoas idosas, indivíduos com necessidades especiais e animais domésticos.
Para contextualizar um pouco, nos primórdios da sociedade, compreendida em um cenário evolutivo, o termo “economia” era utilizado para definir a atividade de gerenciamento do lar, promoção de subsídio para sua manutenção e a sobrevivência dos membros de uma família.
Só que hoje a palavra possui outro significado, que se refere principalmente ao trabalho remunerado, mercado, governo e sociedade. Mas um ponto em comum entre as sociedades mais antigas e a atual: a manutenção e o cuidado com o lar sempre recaiu sobre mulheres e pessoas em situação de vulnerabilidade financeira — coincidentemente duas das grandes minorias sociais do mundo.
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Quais são os cuidados não remunerados em ambientes domésticos?
Dentro de um lar, existem diversas atividades atribuídas às mulheres, muitas vezes de forma implícita, construída por meio de uma convenção social e traços do machismo estrutural. E apesar da relação com o lar, nem todas os cuidados estão relacionados às atividades domésticas diárias. Confira alguns deles que atravessam o conceito de economia do cuidado:
Afazeres domésticos
De forma geral, os afazeres domésticos estão entre os principais cuidados não remunerados em uma casa. Neste contexto, tarefas como limpeza, manutenção do lar e cozinhar são mais frequente no dia a dia das mulheres.
Cuidado de pessoas
Além dos afazeres domésticos, o cuidado de pessoas também se destaca no contexto de economia do cuidado. Mulheres acabam tomando a frente diante dos cuidados direcionados aos filhos, como amamentação e supervisão, às pessoas idosas, com relação parental ou não, e pessoas com necessidades especiais. Tudo isso imposto pelo machismo como uma “obrigação” feminina.
Cuidar de animais domésticos
Atualmente, os animais domésticos também são considerados membros da família. Logo, uma mulher que dedica seu tempo ao lar, também acaba se responsabilizando por cuidar de pets, providenciando alimentação, hidratação, medicações e higienização deles, sejam cães, gatos, pássaros, etc.
Trabalho voluntário
O trabalho voluntário dentro de casa se caracteriza por atividades relacionados ao reabastecimento de mantimentos essenciais para a sobrevivência. Alguns exemplos são as idas ao mercado e a outros estabelecimentos comerciais em busca de alimentos, itens de higiene pessoal, produtos de limpeza e para a manutenção geral do ambiente doméstico.
Economia do cuidado: por que é um trabalho que cai sobre as mulheres?
A escassez de oportunidades, desigualdade salarial, sobrecarga de atividades, a violência e o assédio moral e sexual no trabalho estão entre os principais aspectos que condicionam a mulher a absorver todo o trabalho doméstico e de cuidado em um lar.
Mas, tudo isso é fruto de questões estruturais que prevalecem na sociedade desde seu início. Até hoje, homens são privilegiados em todos os espaços que ocupam, seja no ambiente familiar ou no trabalho. Isso acarreta desigualdade de distribuição de tarefas domésticas e de cuidado, que caem sobre as mulheres, normalmente sem qualquer questionamento.
Não é surpresa para ninguém que o machismo e a desigualdade socioeconômica são os principais responsáveis pelo impacto da economia do cuidado. E é justamente por isso que, além de combater a cultura patriarcal, é um trabalho nosso, como sociedade, visibilizar o esforço feminino dentro e fora do lar!
É possível tornar o trabalho de cuidado mais igualitário?
Existe, sim, a possibilidade de tornar o trabalho de cuidado mais igualitário nos ambientes domésticos. Mas, para que isso ocorra de forma funcional na sociedade, é preciso, primeiro, dar visibilidade à dedicação não remunerada ao lar e aos demais trabalhos de cuidado.
Isso levanta questões acerca das estruturações antigas do que é compreendido como família e trabalho, que costumam ser centralizadas na rotina das mulheres, deixando os homens em segundo plano — com raras participações e intervenções nas principais atividades relacionadas ao ambiente doméstico e familiar.
O primeiro passo para tornar todo o trabalho não remunerado mais igualitário é justamente decentralizar a responsabilidade com o lar e a família, atribuindo aos homens a carga de realizar as funções domésticas e de cuidado mais latentes no dia a dia de cada família — isso dentro de uma estrutura familiar cis hétero normativa, que exclui núcleos familiares LGBTQIAPN+.
Além disso, o contexto também é considerado uma alerta à implementação de medidas que favorecem as mulheres dentro do mercado de trabalho, promovendo uma distribuição monetária igualitária, que aproxima as mulheres aos homens na sociedade.
Como dividir a carga do trabalho de cuidado entre núcleos familiares?
Em um cenário ideal, onde o homem se coloca em uma posição de igual para igual com as mulheres, é possível tornar o trabalho de cuidado mais igualitário entre os núcleos familiares. Dito isso, os homens não só podem como devem participar das atividades diárias não remuneradas da seguinte forma:
- Responsabilizando-se parcialmente por tarefas relacionadas aos cuidados domésticos e familiares, que não devem mais cair apenas sobre as pessoas do gênero feminino;
- A figura paterna não deve ser considerada um refúgio diante das regras impostas pela figura materna dentro de casa. Eles também devem se responsabilizar pelos cuidados com as crianças, mesmo que sejam mais normativos;
- Todos os habitantes de uma casa devem se organizar para distribuir e executar as tarefas domésticas, de cuidado e de manutenção de forma igualitária — afinal, a união faz a força e ela é fundamental para prevenir a sobrecarga individual;
- Pessoas com necessidades especiais também devem ser consideradas na divisão de tarefas, mas sempre considerando suas limitações para que as atividades atribuídas a elas sejam justas, com elas e com o restante da família;
- Para estabelecer uma ordem funcional perante os cuidados com a casa e a família, é necessário abrir espaço para diálogo e considerar as variáveis que afetam a rotina de cuidado, levando em conta a constância e o respeito na execução das tarefas.
Além de tudo isso, é fundamental que a mulher esteja atualizada perante a sua importância na sociedade e tenha recursos para desenvolver uma percepção política paralela à luta diária pelos direitos feministas.
Nosso papo se encerra por aqui, mas se você deseja aprofundar seus conhecimentos a acerca do movimento feminista e suas vertentes, continue acompanhando os posts no blog da TJama. Aqui, você encontra guias e conteúdos que contemplam assuntos relacionados à desigualdade social e de gênero, discriminação racial, preconceito e muito mais!