Sororidade: você sabe o que é? Até onde ela vai?

7 Minutos de Leitura

No Brasil, as mulheres estão entre as principais vítimas de violência moral, sexual e física. Mas não para por aí: o país ocupa a 5ª posição no ranking mundial de feminicídio, em que as vítimas são violentadas e assassinadas todos os dias por pessoas com quem se relacionam intimamente, sejam parceiros ou familiares.

Imagem de um trio de modelos femininas de etnias diferentes, vestindo roupas confortáveis, em pé, lado a lado se abraçando, com o fundo de praia e de dia

Esse cenário chama a atenção para uma das principais temáticas debatidas pelo movimento feminista: afinal, quem defende essas mulheres? E a resposta não é surpresa para ninguém: quem defende as mulheres são elas mesmas.

A partir daí, o conceito de sororidade surge como uma representação da relação solidária entre mulheres. Quer saber mais sobre o que esse termo representa? Continue a leitura do post e confira o que é sororidade, sua origem, importância e muito mais!

O que é sororidade?

Em um contexto de vulnerabilidade diante de uma sociedade majoritariamente machista, a sororidade se refere à conexão entre mulheres em termos de irmandade. Aqui, mulheres se solidarizam umas às outras, atendendo às temáticas referentes a todo e qualquer tipo de violência direcionada ao seu gênero, seja moral, sexual, físico, racial, social e outros.

No entanto, é importante frisar que o termo sororidade está muito mais atrelado à noção e à criação de uma rede de apoio exclusiva entre mulheres que assumem um papel empático e sem rivalidade, apoiando outras mulheres frente às suas reivindicações.

Mas isso significa que, independentemente do contexto, as mulheres são obrigadas a se apoiar? Não necessariamente! Na verdade, a sororidade existe a partir do exercício de respeitar, se colocar no lugar das outras mulheres e, principalmente, assumir o local de fala para acolher umas às outras.

De onde veio o termo sororidade?

Levantado pela ativista feminista norte-americana Kate Millet na década de 70, o termo sororidade se equipara à “fraternidade”. A necessidade de distinguir os dois termos surgiu justamente para ressaltar sua exclusividade às mulheres.

Sabe por que? Por meio de um recorte histórico social e linguístico, a construção da palavra fraternidade ressalta o apoio entre homens, afinal, o termo “frater”, do latim, significa “irmão”. Já “soror” corresponde à versão feminina desse conceito, cuja tradução é “irmã”. Assim, a sororidade consiste basicamente na relação de irmandade entre mulheres.

Por que a sororidade é importante?

De forma geral, a sororidade é necessária para ressaltar a importância genuína de que o apoio, o acolhimento, a compreensão e a empatia entre mulheres é fundamental para combater o machismo e a misoginia, tanto no Brasil quanto em outros países.

Até porque, uma mulher violentada, desamparada e vítima de qualquer tipo de violência precisa receber apoio em espaços que não só fortalecem sua identidade perante a sociedade, como acolhem as mulheres independentemente do seu gênero — oferecendo uma conexão saudável, respeitosa e livre de rivalidade.

Qual a relação entre sororidade e feminismo?

Por mais que a sororidade esteja diretamente ligada ao movimento feminista, eles não significam a mesma coisa. A sororidade é o conceito pilar no movimento feminista, mas seu significado é diferente.

Uma boa forma para distinguir os dois termos é considerar justamente o conceito e as reivindicações de ambos. O movimento feminista, por exemplo, consiste na luta diária de todas as mulheres em busca de igualdade social, étnica, política, econômica, intelectual e de gênero.

A sororidade, por outro lado, está mais atrelada à relação de irmandade e solidariedade entre as mulheres diante das principais reivindicações do feminismo, que é fundamental para a construção de uma união genuína, respeitosa e saudável entre mulheres.

Qual é o papel da sororidade na luta contra o machismo e a misoginia?

Em um cenário no qual os homens são visivelmente privilegiados em comparação às mulheres, a sororidade cumpre um papel fundamental de estabelecer o suporte coletivo entre as mulheres, o que reflete diretamente na promoção da igualdade entre gêneros no ambiente familiar, no mercado de trabalho e nos atos de cuidado, que não são remunerados.

Imagem de três modelos femininas com etnias diferentes, vestindo roupas confortáveis, em pé, lado a lado, sorrindo, com uma bicicleta logo atrás delas, com o fundo de parede com pedras irregulares

Assim, a sororidade se torna essencial para validar as reivindicações de todas as vertentes do movimento feminista contra o machismo e a misoginia. A união saudável entre mulheres é o que as fortalece frente às opressões de gênero.

Sororidade seletiva: até onde vai a irmandade entre as mulheres?

Apesar de ser uma prática positiva, a sororidade pode ser inconsistente, principalmente a partir de uma perspectiva hierárquica, em que subgrupos de mulheres são encarados como uma forma “justa” de selecionar quem deve ser apoiada ou não.

Essa questão é extremamente problemática, pois a sororidade não é um conceito seletivo: ela não deve separar mulheres umas das outras, independentemente de suas diferenças, mas uni-las para a formação de uma comunidade saudável e empática, que concede liberdade e acolhimento a todas, sem deixá-las de fora.

Dessa forma, a sororidade é o caminho para que as mulheres consigam se enxergar umas nas outras, oferecendo aquilo que todas elas precisam: igualdade, força, união e respeito.

Conheça: 18 filmes sobre feminismo para aprender sobre o tema!

Como praticar a sororidade?

Na prática, a sororidade vai além da afinidade entre mulheres que se apoiam. Na verdade, ela consiste no reconhecimento de que todas as mulheres sofrem opressão de gênero frente ao machismo e a misoginia — o que muitas vezes pode parecer nebuloso, pois a rivalidade feminina continua presente na vida das mulheres. E a sororidade visa justamente desconstruir essa crença. Veja como:

  • Conceder suporte às mulheres em sobrecarga, seja na vida doméstica, na familiar ou no trabalho;
  • Garantir que as mulheres se sintam encorajadas e otimistas frente às oportunidades no mercado de trabalho;
  • Desconstruir o conceito de rivalidade entre mulheres que lutam por seu valor diante da percepção do gênero oposto;
  • Apoiar a carreira e o trabalho das outras mulheres a partir de um viés de consumo e de promoção a partir de indicações;
  • Prezar pelo respeito mútuo entre mulheres, garantindo que todas se sintam acolhidas frente às suas vulnerabilidades;
  • Posicionar-se como uma fonte de segurança, amparo e troca de experiências, criando um cenário de empatia entre mulheres;
  • Considerar o conhecimento como algo compartilhável, em que mulheres fortalecem umas às outras em busca de desenvolvimento;
  • Criar uma relação livre de julgamentos, mesmo que as outras mulheres apresentem crenças e comportamentos diferentes dos seus.

Além disso, a demonstração de afeto é uma representação bem clara de sororidade, mesmo que você não possua afinidade com a mulher em questão. Ouça, abrace e mostre que você se importa com o bem-estar de mulheres que estão em vulnerabilidade — assim como as que não estão. Afinal, todas as mulheres, independentemente da etnia, classe e sexualidade, são dignas de sororidade.

Imagem de três modelos de etnias diferentes, vestindo roupas confortáveis e coloridas, en pé, lado a lado, sorrindo, com o fundo de árvores de um parque e de dia

Gostou desse conteúdo? Então, continue com a TJama e confira mais textos que, assim como este, levantam debates acerca da descriminação e desigualdade de grupos minoritários perante a sociedade. Aproveite e faça a leitura de nosso texto sobre as expressões preconceituosas para tirar do vocabulário!

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