No Brasil, as mulheres estão entre as principais vítimas de violência moral, sexual e física. Mas não para por aí: o país ocupa a 5ª posição no ranking mundial de feminicídio, em que as vítimas são violentadas e assassinadas todos os dias por pessoas com quem se relacionam intimamente, sejam parceiros ou familiares.

Esse cenário chama a atenção para uma das principais temáticas debatidas pelo movimento feminista: afinal, quem defende essas mulheres? E a resposta não é surpresa para ninguém: quem defende as mulheres são elas mesmas.
A partir daí, o conceito de sororidade surge como uma representação da relação solidária entre mulheres. Quer saber mais sobre o que esse termo representa? Continue a leitura do post e confira o que é sororidade, sua origem, importância e muito mais!
O que é sororidade?
Em um contexto de vulnerabilidade diante de uma sociedade majoritariamente machista, a sororidade se refere à conexão entre mulheres em termos de irmandade. Aqui, mulheres se solidarizam umas às outras, atendendo às temáticas referentes a todo e qualquer tipo de violência direcionada ao seu gênero, seja moral, sexual, físico, racial, social e outros.
No entanto, é importante frisar que o termo sororidade está muito mais atrelado à noção e à criação de uma rede de apoio exclusiva entre mulheres que assumem um papel empático e sem rivalidade, apoiando outras mulheres frente às suas reivindicações.
Mas isso significa que, independentemente do contexto, as mulheres são obrigadas a se apoiar? Não necessariamente! Na verdade, a sororidade existe a partir do exercício de respeitar, se colocar no lugar das outras mulheres e, principalmente, assumir o local de fala para acolher umas às outras.
De onde veio o termo sororidade?
Levantado pela ativista feminista norte-americana Kate Millet na década de 70, o termo sororidade se equipara à “fraternidade”. A necessidade de distinguir os dois termos surgiu justamente para ressaltar sua exclusividade às mulheres.
Sabe por que? Por meio de um recorte histórico social e linguístico, a construção da palavra fraternidade ressalta o apoio entre homens, afinal, o termo “frater”, do latim, significa “irmão”. Já “soror” corresponde à versão feminina desse conceito, cuja tradução é “irmã”. Assim, a sororidade consiste basicamente na relação de irmandade entre mulheres.
Por que a sororidade é importante?
De forma geral, a sororidade é necessária para ressaltar a importância genuína de que o apoio, o acolhimento, a compreensão e a empatia entre mulheres é fundamental para combater o machismo e a misoginia, tanto no Brasil quanto em outros países.
Até porque, uma mulher violentada, desamparada e vítima de qualquer tipo de violência precisa receber apoio em espaços que não só fortalecem sua identidade perante a sociedade, como acolhem as mulheres independentemente do seu gênero — oferecendo uma conexão saudável, respeitosa e livre de rivalidade.
Qual a relação entre sororidade e feminismo?
Por mais que a sororidade esteja diretamente ligada ao movimento feminista, eles não significam a mesma coisa. A sororidade é o conceito pilar no movimento feminista, mas seu significado é diferente.
Uma boa forma para distinguir os dois termos é considerar justamente o conceito e as reivindicações de ambos. O movimento feminista, por exemplo, consiste na luta diária de todas as mulheres em busca de igualdade social, étnica, política, econômica, intelectual e de gênero.
A sororidade, por outro lado, está mais atrelada à relação de irmandade e solidariedade entre as mulheres diante das principais reivindicações do feminismo, que é fundamental para a construção de uma união genuína, respeitosa e saudável entre mulheres.
Qual é o papel da sororidade na luta contra o machismo e a misoginia?
Em um cenário no qual os homens são visivelmente privilegiados em comparação às mulheres, a sororidade cumpre um papel fundamental de estabelecer o suporte coletivo entre as mulheres, o que reflete diretamente na promoção da igualdade entre gêneros no ambiente familiar, no mercado de trabalho e nos atos de cuidado, que não são remunerados.

Assim, a sororidade se torna essencial para validar as reivindicações de todas as vertentes do movimento feminista contra o machismo e a misoginia. A união saudável entre mulheres é o que as fortalece frente às opressões de gênero.
Sororidade seletiva: até onde vai a irmandade entre as mulheres?
Apesar de ser uma prática positiva, a sororidade pode ser inconsistente, principalmente a partir de uma perspectiva hierárquica, em que subgrupos de mulheres são encarados como uma forma “justa” de selecionar quem deve ser apoiada ou não.
Essa questão é extremamente problemática, pois a sororidade não é um conceito seletivo: ela não deve separar mulheres umas das outras, independentemente de suas diferenças, mas uni-las para a formação de uma comunidade saudável e empática, que concede liberdade e acolhimento a todas, sem deixá-las de fora.
Dessa forma, a sororidade é o caminho para que as mulheres consigam se enxergar umas nas outras, oferecendo aquilo que todas elas precisam: igualdade, força, união e respeito.
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Como praticar a sororidade?
Na prática, a sororidade vai além da afinidade entre mulheres que se apoiam. Na verdade, ela consiste no reconhecimento de que todas as mulheres sofrem opressão de gênero frente ao machismo e a misoginia — o que muitas vezes pode parecer nebuloso, pois a rivalidade feminina continua presente na vida das mulheres. E a sororidade visa justamente desconstruir essa crença. Veja como:
- Conceder suporte às mulheres em sobrecarga, seja na vida doméstica, na familiar ou no trabalho;
- Garantir que as mulheres se sintam encorajadas e otimistas frente às oportunidades no mercado de trabalho;
- Desconstruir o conceito de rivalidade entre mulheres que lutam por seu valor diante da percepção do gênero oposto;
- Apoiar a carreira e o trabalho das outras mulheres a partir de um viés de consumo e de promoção a partir de indicações;
- Prezar pelo respeito mútuo entre mulheres, garantindo que todas se sintam acolhidas frente às suas vulnerabilidades;
- Posicionar-se como uma fonte de segurança, amparo e troca de experiências, criando um cenário de empatia entre mulheres;
- Considerar o conhecimento como algo compartilhável, em que mulheres fortalecem umas às outras em busca de desenvolvimento;
- Criar uma relação livre de julgamentos, mesmo que as outras mulheres apresentem crenças e comportamentos diferentes dos seus.
Além disso, a demonstração de afeto é uma representação bem clara de sororidade, mesmo que você não possua afinidade com a mulher em questão. Ouça, abrace e mostre que você se importa com o bem-estar de mulheres que estão em vulnerabilidade — assim como as que não estão. Afinal, todas as mulheres, independentemente da etnia, classe e sexualidade, são dignas de sororidade.

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