A linguagem é um dos canais de discurso mais poderosos que existem: ao mesmo tempo que ela liberta, ela oprime. Logo, o mau uso da linguagem resgata concepções que ferem minorias, fortalecendo o preconceito de gênero, racismo, capacitismo, xenofobia, homofobia, entre outros.

Esse contexto chama a atenção para expressões que, apesar de parecer inofensivas, são incorporadas no dia a dia da sociedade e sinalizam posicionamentos extremamente opressivos enviesados pelo preconceito estrutural, velado, alimentando-o.
Livrar-se das expressões preconceituosas usadas hoje, no dia a dia, não só é uma forma de respeito, mas também um meio de conscientizar-se acerca da negritude, da racialidade, das concepções de gênero e de como o preconceito, de forma geral, violenta minorias diariamente.
A partir daí, a linguagem se torna revolucionária — e mesmo que a revolução seja coletiva, ela também deve partir da gente. Se você quer contribuir com esse cenário, comece conhecendo quais termos e expressões pejorativas você deve banir do seu vocabulário de uma vez por todas!
10 expressões preconceituosas para banir do seu vocabulário
Capacitar-se linguisticamente a fim de se livrar de expressões e termos ofensivos e preconceituosos é uma forma de combater o preconceito e a discriminação em suas mais diversas formas. Se você quer expressar seu respeito à igualdade e diversidade, confira 25 termos e expressões que devem sumir imediatamente do seu vocabulário!
1. “Isso é coisa de mulherzinha”
A frase “isso é coisa de mulherzinha” é clássica em discursos machistas. Além de atribuir uma ação específica como algo que provém do gênero, adicionar o “-inha” cria uma relação de inferioridade e fragilidade em que assume-se que o gênero feminino é inferior em contraste ao masculino. Geralmente, a expressão é utilizada para depreciar a masculinidade de homens que não performam virilidade e dominância.
📝 Substitua por: não existe substituição. De preferência, não questione ou conteste a masculinidade alheia a partir de construções e imposições de gênero.
2. “Se sabe cozinhar, já pode casar”
Assumir que uma pessoa — normalmente, uma mulher — é elegível a viver uma relação civil estável apenas por saber cozinhar diz muito sobre a nossa compreensão sobre o que é um casamento, direcionando a pessoa à função apenas para reafirmar que essa é uma das posições na relação, ou seja, enquanto o esposo sai para trabalhar, a esposa fica em casa para cozinhar — e ela precisa saber cozinhar muito bem para isso.
📝 Substitua por: você cozinha muito bem. Parabéns!
3. “Mal amada” ou “mal comida”
Os termos “mal amada” ou “mal comida” são comumente utilizados para se referir às pessoas que não estão de bom humor em determinado momento. Através de uma percepção feminista, essa associação reduz a felicidade da mulher ao conceito de que ela isso só é possível quando ela vive relação amorosa e sexual dentro dos padrões patriarcais e monogâmicos.
📝 Substitua por: não há substituição. A felicidade das mulheres não está relacionada ao envolvimento amoroso ou sexual com um homem e muito menos depende disso. Não use!

4. “Chuta que é macumba”
Além de racista, a frase “chuta que é macumba” é uma demonstração escancarada de intolerância contra religiões de origem africana. De forma geral, a expressão compreende as oferendas para Exu, que costumam ser alocadas em encruzilhadas, como práticas religiosas malignas — o que gera a interpretação de que práticas associadas às religiões africanas causam o mal.
📝 Substitua por: apesar da compreensão popular, macumba é apenas um instrumento utilizado em cerimônias de religiões de matriz africana. Não utilize essa expressão.
5. “A coisa tá preta”
Essa expressão associa pessoas negras à compreensão de que algo está desagradável, complicado ou desfavorável. E essa conotação é justamente o problema, até porque é inconcebível associar qualquer contexto negativo à raça de uma pessoa — não tem discussão, é racismo!
📝 Substitua por: dizer que algo está complicado ou desagradável é muito simples. Basta dizer “a coisa complicou” ou “a situação ficou complicada”.
6. “Não grita comigo que eu não sou tuas nega”
A expressão “Não grita comigo que eu não sou tuas nega” é totalmente desrespeitosa e racista, pois resgata concepções de raça, escravidão e inferioridade. Geralmente, é utilizada para indicar que alguém não tem o direito de elevar a voz à você, pois, você não pertence a minoria que, de acordo com a expressão, estaria passível de receber esse tipo de violência.
📝 Substitua por: não existe termo para substituir. Não há nada que justifique maus tratos, assédio moral ou sexual, abuso ou qualquer tipo de violência do gênero.
7. “Índio é preguiçoso, não gosta de trabalhar”
Clássica em discursos xenofóbicos, a frase “Índio é preguiçoso, não gosta de trabalhar” resgata a percepção dos colonizadores diante dos povos nativos e escravizados que resistiram à escravidão. Além disso, a expressão reforça a ideia de que apenas pessoas brancas trabalham.
📝 Substitua por: povos colonizados forçados a trabalhar não estão trabalhando, estão sendo escravizados. A expressão não é substituível e não deve ser utilizada.
8. “Abre o olho, japonês!”
A expressão “Abre o olho, japonês!” parte do pressuposto de que pessoas japonesas ou que descendem dos povos japoneses não conseguem enxergar bem devido às suas características físicas. Com caráter racista e xenofóbico, a expressão reforça a crença de que pessoas brancas creem ser superiores às outras, inclusive quando se trata de características físicas.
📝 Substitua por: a raça de uma pessoa ou suas características físicas não tem relação alguma com uma boa, ou má visão. Não há expressão substituta.
9. “Débil mental” e “retardado”
Ambos os termos “débil mental” e “retardado” são formas pejorativas utilizadas para se referir a pessoas com deficiência ou distúrbios mentais. Geralmente, são utilizadas de forma depreciativa e chamam a atenção para posicionamentos capacitistas e segregadores.

📝 Substitua por: pessoa com deficiência (PcD).
10. “É tudo a mesma coisa” e “é tudo gay”
As expressões “É tudo a mesma coisa” ou “É tudo gay” sinalizam o apagamento da pluralidade que contempla a comunidade LGBTQIAPN+, que carrega a liberdade identitária como uma de suas principais pautas. Os termos são generalistas e homofóbicos.
📝 Substitua por: pessoas LGBTQIAPN+ não são iguais, por isso não há termo substitutivo — não é à toa que cada letra da sigla se refere a uma identidade de gênero específica.
Extra: veja como substituir expressões preconceituosas e intolerantes
Achou que parava por aí? Pois é, infelizmente nossa língua tem muitos mais termos e expressões preconceituosas do que parece. Veja como substituí-los no dia a dia para enfrentar o preconceito e as diversas formas de discriminação:
Expressão/termo preconceituoso | Expressão/termo substitutivo |
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A equipe não tem braços. | A equipe não tem recursos suficientes. |
Cor de pele. | Especificação da cor. |
Cor do pecado. | Pele bronzeada. |
Criado mudo. | Gaveteiro. |
Denegrir. | Difamar. |
Doméstica. | Funcionária; governanta. |
Especial. | Pessoa com Deficiência (PcD). |
Fingir demência. | Desentendido. |
Homossexualismo. | Homossexualidade. |
Humor negro. | Humor ácido. |
Índio. | Povos indígenas/povos originários. |
Judiação. | Maltratar. |
Mercado negro. | Mercado clandestino. |
Mulato(a) ou moreno(a). | Chamar pelo nome. |
Nega maluca. | Bolo de chocolate. |
Opção sexual. | Orientação sexual. |
Teta de nega. | Nhá Benta. |
Traveco. | Travesti. |
Cabelo ruim ou cabelo duro. | Cabelo afro, crespo ou cacheado. |
Japa, China ou Coréia. | Chamar pelo nome. |
A luta antirracista, antixenofóbica, antisexista, anticapacitista, enfim, antipreconceito, vai muito além da linguagem, mas não se pode esquecer que a língua continua sendo um canal fundamental de expressão que nos oferece o poder de combater repressões e imposições que ofendem e violentam a liberdade.
Se você gostou deste conteúdo, continue acompanhando o blog da TJama e aproveite para conferir nosso post sobre linguagem neutra para descobrir como deixar sua comunicação ainda mais inclusiva. Boa leitura e até a próxima!