Feminismo negro: uma vertente com debates étnico-raciais

8 Minutos de Leitura

Em uma busca por igualdade de gênero e combate às opressões enfrentadas pelas mulheres, o feminismo é um movimento social e político que une mulheres do todo o mundo para proporcionar as mesmas condições oferecidas aos homens em ambientes sociais, de trabalho, políticos e mais.

Três modelos de braços dados

Mas, à medida que o movimento feminista foi ampliado, ficou evidente que nem todas as mulheres enfrentam as mesmas formas de opressão. Diante disso, o feminismo negro surgiu como uma resposta a essa realidade, destacando as experiências únicas das mulheres negras, que enfrentam tanto o racismo quanto o sexismo.

Quer entender o que é o feminismo negro, como ele surgiu e suas reivindicações acerca das interseções entre raça, gênero e classe ao abordar questões de desigualdade e opressão de mulheres negras e não brancas? Então, continue na TJama para conferir o conteúdo na íntegra!

O que é o feminismo negro?

Considerada uma das principais vertentes do feminismo hegemônico, o feminismo negro é um movimento político antirracista e antissexista que une mulheres do Brasil e do mundo na luta contra a discriminação de gênero, classe e raça que violenta mulheres negras ou não brancas — levando em conta a intersecção da identidade racial, sexual e social desses grupos.

Esse movimento fez-se necessário, principalmente porque a vertente feminista clássica baseia-se na igualdade de gênero restringe-se conceitualmente perante à igualdade social de gênero, visando o bem-estar das mulheres frente ao machismo e ao patriarcado.

O feminismo negro, por outro lado, atende às dores de mulheres negras e não brancas, que sofrem discriminação além das concepções tradicionais de gênero, enfrentando desafios diários que as colocam em espaços de desvalor em termos de raça, classe e identidade política.

Como surgiu o feminismo negro?

A vertente clássica do feminismo, apesar de ter sido o ponto de partida em uma história de reivindicações dos direitos das mulheres em cenários sociais e políticos, possui uma lógica embrionária quanto à discriminação racial, social e política enfrentada por mulheres negras ou não brancas.

Devido à ausência dessas pautas dentro do movimento feminista tradicional, mulheres racializadas uniram-se para representar uma minoria que não recebia atenção de manifestantes brancas que representavam, principalmente, outras mulheres brancas. Assim, o feminismo negro surgiu para dar voz as mulheres negras e não brancas que foram excluídas do movimento feminista hegemônico.

Mas é importante destacar que a luta de mulheres racializadas não é algo que surgiu após o movimento feminista mainstream. Os debates de étnico-raciais levantam pautas em combate a discriminação da elite branca racista, supremacista e fascista que, desde o imperialismo, escraviza, discrimina, sexualiza, violenta e abusa não apenas das mulheres negras, mas de todas as pessoas negras e não brancas.

Quais são os pilares do feminismo negro?

Assim como o feminismo hegemônico, o feminismo negro é sustentado por pilares que orientam tanto a sua teoria quanto a sua prática. Cada um desses pilares do feminismo desempenha um papel crucial na forma como o feminismo negro aborda as questões de desigualdade e opressão. Confira quais são eles:

Duas modelos posando de punhos cerrados

Interseccionalidade

Considerado um conceito central no feminismo negro, a interseccionalidade é um termo introduzido pela acadêmica Kimberlé Crenshaw, que reconhece que as mulheres racializadas enfrentam múltiplas formas de opressão que interagem e se reforçam mutuamente. 

Em vez de tratar as questões de raça, gênero e classe como separadas, a interseccionalidade destaca a necessidade de compreender como esses diferentes sistemas de opressão se sobrepõem e afetam as vidas das mulheres negras nos âmbitos raciais, sociais, políticos e de gênero.

Identidade política

A identidade política se refere ao reconhecimento de que as experiências e as lutas das mulheres negras estão intrinsecamente ligadas à sua identidade racial e de gênero. Ao abraçar sua identidade política, as mulheres negras afirmam seu direito de definir e de liderar suas próprias lutas por justiça social, desafiando as narrativas dominantes que frequentemente as excluem ou distorcem.

Esse conceito também envolve a construção de solidariedade e alianças entre mulheres negras, bem como com outros grupos marginalizados, fortalecendo suas vozes e aumentando seu impacto coletivo.

Conscientização racial

Além disso, a conscientização racial pilar fundamental do feminismo negro, que busca enfatizar a importância de reconhecer e de desafiar o racismo estrutural e institucional que permeia a sociedade. Ela envolve a educação e a sensibilização sobre as dinâmicas de poder racial e as formas como o racismo afeta as vidas das mulheres negras e não brancas em vários aspectos.

Promover a compreensão profunda das raízes históricas e sociais do racismo faz do feminismo negro um movimento que busca desmantelar as estruturas de poder que perpetuam a desigualdade racial, tornando-se um meio de empoderamento e de resistência de mulheres racializadas na busca por justiça e igualdade perante a sociedade.

O que o feminismo negro reivindica?

A busca por justiça e a igualdade de mulheres negras e racializadas levanta as diversas formas de opressão que elas enfrentam. Dentre as principais reivindicações do feminismo negro, estão:

Igualdade de gênero

A igualdade de gênero envolve o combate às desigualdades e às discriminações enfrentadas pelas mulheres negras e não brancas, o que inclui a luta contra a violência de gênero, a discriminação no local de trabalho e a objetificação das mulheres negras.

Nesse aspecto, o feminismo negro busca garantir que todas as mulheres tenham acesso a oportunidades iguais e sejam tratadas com respeito e dignidade, independentemente de sua raça.

Igualdade de classe

No ambiente profissional, as mulheres negras e racializadas são desproporcionalmente desrespeitadas frente às mulheres brancas. A igualdade de classe, então, reconhece que as desigualdades econômicas e de classe afetam desproporcionalmente as mulheres negras

Em busca de abordar as desigualdades econômicas e garantir que as mulheres negras tenham acesso a recursos e oportunidades para melhorar suas condições de vida, o feminismo negro fomenta a luta por salários mais justos, acesso à educação de qualidade, oportunidades de emprego igualitárias e combate contra o assédio moral e sexual no ambiente de trabalho.

Igualdade étnico-racial

Considerada a reivindicação central do feminismo negro, a igualdade étnico-racial busca desafiar o racismo estrutural e promover a consciência e a igualdade racial. Isso envolve a luta contra a discriminação racial em todas as suas formas, incluindo o racismo institucional, a violência racial e os estereótipos negativos.

Em vista disso, o feminismo negro busca criar uma sociedade onde as mulheres negras sejam respeitadas e valorizadas por suas contribuições e tenham as mesmas oportunidades do que os outros grupos raciais.

Feminismo negro no Brasil: combate à discriminação racial e de gênero

No Brasil, o feminismo negro desempenha um papel crucial no movimento antirracista, combatendo a discriminação racial e de gênero em um contexto marcado por profundas desigualdades sociais e raciais.

Duas modelos posando de óculos escuros

Com uma longa história de racismo estrutural que afeta desproporcionalmente as mulheres negras, o Brasil apresenta altos índices de violência e discriminação de mulheres negras e racializadas no mercado de trabalho e a falta de acesso a serviços básicos.

Nesse âmbito, ativistas e intelectuais, como Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro e Djamila Ribeiro, têm sido fundamentais para o desenvolvimento do movimento feminismo negro no Brasil, buscando promover debates sobre a interseccionalidade, a identidade política e a conscientização racial, atuando para aumentar a visibilidade e a voz das mulheres negras na sociedade brasileira.

Além disso, o feminismo negro não se limita a abordar questões de gênero e de raça de forma isolada, mas busca construir alianças com outros movimentos sociais que lutam por justiça social, como o LGBTQIAPN+, o indígena e o por direitos trabalhistas, trazendo mudanças significativas para criar uma sociedade mais justa e igualitária para todas as mulheres.

Se você gostou desse texto, continue acompanhando o blog da TJama para conferir mais conteúdos que, assim como este, contemplam debates relacionados à luta diária de grupos minoritários e marginalizados na sociedade, fortalecidos por intelectuais e ativistas feministas, LGBTQIAPN+ e PcDs de todo o mundo!

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